quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Um dos dias mais especiais da minha vida!

SEJA BEM VINDO ATHOS!

Eu segurando Athos, o papi Marcelo e a mami Nati, no espelho Bruna, a grande responsável por esse momento.

Mapa Astral do Athos


Hoje, meu presente foi doular pela primeira vez. Minha querida Natalia, deu a luz ao Athos, um menino lindo, rosinha, cabeludo. Pus em prática tudo (ou quase tudo) o que aprendi. Mas o mais importante...foi estar ali com a alma...me senti parindo junto com ela. É uma energia indescritível...uma explosão, uma bomba de amor. Ver uma família nascendo cercada de tanto carinho é muito emocionante. E o melhor, a Nati deu a luz em casa, com suas coisas, com seus cheiros, com seus recantos preferidos, com as músicas que ela queria ouvir, com a mão do seu amor amparando sua dor, com carinho de mãe, de sogra, da mão insistente da doula. Dentro de uma banheira no seu quarto, com um dia de sol lindo. Athos nasceu calminho, pelas mãos sábias da Zeza e sob olhar do Ricardo. Esse dia nunca vai sair do meus olhos, me encheu de esperança e me deixou com uma vibração que valem por uma semana de meditação. Também fez crescer em mim essa vontade de gritar para as mulheres: Tenham seus filhos por vocês mesmas!Façam valer SUA vontade!

"Há uma primavera em cada vida: é preciso cantá-la assim florida, pois se Deus nos deu voz, foi para cantar! E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada que seja a minha noite uma alvorada, que me saiba perder...para me encontrar..."

Florbela Espanca

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A tal Dor



Ao falar com uma gestante , o assunto "dor" ás vezes se torna um tabu. E não somente a dor dela própria, como a dor que o bebê vai sentir ao passar pelo canal de parto.Mas de que sofrimento estamos falando?Que dor é essa que nos persegue?No site da Parto do Principio encontrei um artigo que esclarece isso muitobem. Transformar dor em prazer é a chave.

O porquê da dor

A gente pode dissecar a questão da dor (do parto) de infinitos modos, pois não se trata de uma grandeza absoluta, não mede xis unidades de qualquer coisa. Ela é relativa, e a múltiplos fatores combinados entre si, físicos e psíquicos, conscientes e inconscientes, e a combinação de todos eles produz a percepção psico-física dentro de limiares individuais.
Na nossa cultura, o parto é na grande maior parte das vezes vivenciado e relatado como um evento em que está presente uma dor que beira o insuportável. Será necessário que seja assim? Vejamos...
Primeiramente há o aspecto evolutivo. O parto humano é o que apresenta a relação céfalo- pélvica mais estreita da natureza. Um dia resolvemos descer das árvores e caminhar sobre duas pernas. Outro dia resolvemos engrossar nossa camada de neo-córtex cerebral: resultamos bípedes e cabeçudos, porque somos metidos a não ser bestas. E na hora de parir nossos filhotes, os processos musculares de contração das paredes e dilatação do colo uterino, mais os movimentos do bebê empurrando-se para fora ocorrem sem folga de espaço, e as sensações fortes* que esses processos produzem podem ser interpretados como “dor”, e potencializados em sensações ainda mais dolorosas se houver medo, insegurança, ou ação de hormônios artificiais como se costuma aplicar através de soro às mulheres em trabalho de parto com o objetivo de acelerar o processo, atingindo níveis de fato insuportáveis. Em "Correntes da Vida", o psicoterapeuta inglês David Boadella** descreve o comportamento uterino em trabalho de parto quando a mãe sente qualquer tipo de medo – consciente ou inconsciente:
“(...) o útero tenta fazer duas coisas antagônicas ao mesmo tempo: tenta abrir-se, sob a influência do relógio biológico que atua através do hormônio que prepara o caminho para o bebê nascer; e, simultaneamente, tenta manter-se fechado, sob a influência dos nervos simpáticos, trazidos à ação pelo medo. É como se alguém quisesse dobrar e esticar o braço ao mesmo tempo; o braço teria um espasmo, que causaria dor. isso é exatamente o que acontece com o útero de uma mãe que é incapaz de relaxar e que está condicionada a sentir dor.”
Mas por que a mulher está condicionada a sentir dor? Um dos motivos é o arquétipo do parto doloroso em conseqüência do pecado original, como reza nossa cultura judaico-cristã. Ao expulsar Adão e Eva do Paraíso por terem provado do fruto do Conhecimento, o Criador lhes diz: “Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos” (Gênesis 3:16). Ora, como não sentir dor se o próprio Deus a determina? O arquétipo do parto como sofrimento foi literalmente in-corporado baixo a quase 6.000 anos de crença.
Outro aspecto importante, é o caráter fisiológico do parto. Esta noção não faz parte do senso comum: de que o ato de parir (assim como gestar e amamentar) é tão fisiológico e saudável quanto respirar, digerir, filtrar o sangue, pensar, absorver nutrientes, excretar, chorar, ouvir, enxergar, fazer sexo, fazer amor. Mas na nossa cultura, uma mulher grávida é vista como alguém sob risco potencial e iminente, o parto é visto como um evento necessariamente hospitalar e na maioria das vezes, cirúrgico. Ao transformar um evento potencialmente saudável em necessariamente patológico, a dor encontra campo fértil para ser identificada como tal. Está aí um dos fatores que levam tantas mulheres a sentir pavor pelo parto normal.
A dor tida por alucinante pode ser percebida como lidável quando a mulher, em primeiro lugar subtrai-lhe a parcela da dor propriamente dita, advinda do medo e da insegurança; o restante das sensações, ela pode converter em sensações lidáveis ao aceitar a natureza do seu corpo, aceitar as sensações do trabalho de parto não como alguma coisa a vencer, contra as quais se deve lutar - porque elas não resultam de uma patologia, não sinalizam alguma coisa que está errada, como uma fratura ou queimadura, por exemplo. Não. Essa sensação é uma aliada que sinaliza o processo fisiológico do parto, levando a mulher a fazer força, ou a se contorcer, a gemer, a acocorar-se ou a procurar a banheira, e entre as contrações as sensações atenuam, como ondas***, e você pode relaxar. As sensações intensas levam ao transe, e esse transe tem que ser aproveitado, ele faz parte. Você não precisa de anestésicos, ordem pra fazer força, fórceps. Você precisa apenas de liberdade para vivenciar seu parto.
O parto é você, é o seu corpo em plena atividade, e você não deveria deixar esta parte de você ser subtraída por uma conveniência que vem de fora. Existem séculos de uma cultura desfeminilizante costurando essa rede em que se cai tão facilmente, como eu mesma caí nos meus partos. Não é a mulher que precisa da anestesia, são os outros que precisam do conforto de uma mulher parindo quietinha.
E há outro aspecto que eu acho muito interessante que é a coisa do ritual de passagem. Nós cultivamos algumas manifestações externas de rituais, como casamentos, batizados, bar-mitzvahs, aniversários, festas da primavera, e essas festas refletem a nossa necessidade humana de marcar as passagens das fases, de criança inimputável para o adulto responsável, da vida individual para a vida em família, de um período de dureza para outro de fartura, enfim, quando passamos de uma fase para outra sem essa marca fica faltando alguma coisa. Tive um tio que foi tratado com hormônios nos anos 40 para acelerar seu crescimento. Na verdade ele foi cobaia das primeiras experimentações com hormônios no Brasil. De um dia para o outro ganhou pelos pelo corpo, engrossou a voz, a adolescência que deveria prepará-lo vagarosamente para a idade adulta veio num turbilhão que ele não deu conta e ninguém à volta dele compreendeu. Ele enlouqueceu.
Assim é com o parto. Quando se tenta ao máximo passar por ele como se nada tivesse acontecido - e o ápice disso é a cesárea eletiva, está-se pulando um ritual fundamental para o início da maternidade. E o efeito cascata começa: dificuldade de estabelecer vínculo com o bebê, depressão pós-parto, "falta" de leite, intolerância ao comportamento do bebê. O parto normal cheio de intervenções, do qual se diz "ah, foi uma beleza, não senti na-da!!! fiquei ali, conversando, e em xis (poucas) horas o bebê nasceu!!" não é muito menos maquiagem da passagem. Sim, "de repente" o bebê estava ali. E ela não precisou fazer nada. Inicia-se a maternidade com a sensação de que "não é preciso fazer nada" para ser mãe. E começa a transferência de responsabilidade... impulsionada pela sensação inconsciente de que a maternidade moderna NÃO PODE ser trabalhosa. E esse caráter trabalhoso que a maternidade efetivamente tem, não é, como nossa sociedade acredita, um sofrimento, um castigo do qual devemos nos livrar. Ao contrário, ela contém o extremo prazer que sentem as pessoas que superam desafios, convivendo com as mudanças no corpo e na vida pelo prazer que isso traz, em oposição à compulsão de querer lutar contra as mudanças irreversíveis promovidas pela chegada dos filhos.
O processo do parto vem sendo aprimorado há milhões de anos (ou milhares, depende do critério), e a humanidade definitivamente não aperfeiçoou este processo agregando-lhe tecnologia, apenas o corrompeu. Anestesia, ocitocina na veia, posição horizontal, raspagens, submissão a alguém como dono do parto, kristeller, amniotomia, episiotomia, tudo isso num trabalho de parto que está transcorrendo sem intercorrências, não é evolução: é perversão. Das grossas. Você e seu bebê não precisam de mais nada além dos seus corpos com seus hormônios para permitir o nascimento.
Precisamos desconstruir o conceito de parto doloroso, e compreender e desejar e conquistar o parto prazeroso, não importa quão trabalhoso ele possa ser. Não se deixem levar pela inércia do sistema obstétrico vigente, que inadvertidamente vampiriza a força, a beleza e a vida que mãe e bebê protagonizam no ato de parir e nascer.

* definição da Éllade França
** contribuição da Anita Cione
*** definição de Michel Odent

Roselene NogueiraMãe de Heloisa, Beatriz e Isabela (3 partos normais hospitalares) e arquiteta

domingo, 14 de novembro de 2010

Exercícios na Hora "P"

Praticar exercícios fisioterápicos durante o parto aumenta a tolerância à dor, reduz o uso de fármacos e diminui o tempo até o nascimento do bebê, conclui um estudo feito no Hospital Universitário da USP. Entre as grávidas que fizeram as atividades, o índice de cesarianas ficou em 11%. A média, na instituição, é de 20%.
No SUS, a taxa de cesáreas é de 28% e na rede privada e suplementar chega a 90%. A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda que o índice seja de, no máximo, 15%.
Na pesquisa, foram avaliadas 132 gestantes do primeiro filho, com gravidez a termo: 70 foram acompanhadas por fisioterapeuta e fizeram os exercícios preconizados no trabalho de parto e outras 62 tiveram acompanhamento obstétrico normal, sem os exercícios. As gestantes do estudo foram orientadas a ficar em várias posições, fazer movimentos articulares e pélvicos, relaxamento do períneo e coordenação do diafragma.
A fisioterapeuta Eliane Bio, autora do estudo, diz que, além da redução do número de cesáreas, os exercícios diminuíram a dor e a duração do trabalho de parto -de 11 para 5 horas. “Nenhuma parturiente do nosso grupo precisou de analgésico.” No grupo controle, 62% usaram drogas de analgesia.
No Brasil, exercícios no trabalho de parto estão restritos aos poucos centros médicos que incentivam o parto normal, mas, em países como a Inglaterra e a Alemanha, vigoram há mais de 40 anos. Na França, toda grávida é orientada a fazer ao menos 12 consultas com o fisioterapeuta no pré-natal.
Segundo Bio, os exercícios remetem à livre movimentação que, no passado, a mulher tinha em casa durante o parto. “Temos que estimular as habilidades do corpo da mulher para o parto, prevenindo traumas no períneo, levando a uma vivência menos dolorosa, resgatando a poesia do nascimento.”
Segundo ela, os procedimentos fisioterápicos preconizam a participação da mulher em todo o processo de parto, com a livre escolha de posições durante as contrações.
O obstetra Artur Dzik, diretor da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana, diz que o estudo é benfeito (prospectivo, randomizado e com um número significativo de voluntárias). “Tudo o que estimula responsavelmente o parto normal é bem-vindo num país com altíssima incidência de cesárea.”
Para ele, o ponto principal do trabalho foi ter mostrado que o acompanhamento fisioterápico retarda a necessidade de analgesia, diminuindo o tempo do trabalho de parto.
Na opinião de Renato Kalil, ginecologista e obstetra da Maternidade São Luiz, o mérito do trabalho de Bio é ter “colocado no papel” a eficácia dos exercícios. “Minhas pacientes fazem isso há 22 anos, mas ainda são exceções. Na maioria dos hospitais, a grávida fica deitada esperando a hora da cesárea.”
Ele pondera que o trabalho não consegue demonstrar de que forma ocorre o relaxamento provocado pelos exercícios. “Um médico adepto da cesárea diria que seria preciso medir os impulsos elétricos do músculo para comprovar o relaxamento. Mas, na prática, sabemos que a movimentação funciona.”




Fonte: Claudia Colluci - Folha de São Paulo

E enquanto a Hora "P" não chega, você pode ir preparando seu corpo:

E não esqueça de caminhar, caminhar e caminhar!

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O "Defeito" da Mulher

De: Anjo Gabriel
Para: O Senhor
Data: 1.000.000 anos a.C.
Ref.: Defeito de Fabricação

Prezado Senhor,
Venho comunicar um problema detectado em nosso controle de qualidade, com o produto "Mulher, versão 5.0". Na saída do aparelho reprodutor, conhecida por "Fenda Final" ou por "vagina", como apelidaram os engraçadinhos da produção, está faltando uma abertura maior para a passagem do outro produto, "Bebê, versão 4.3". Peço retificação do modelo piloto.
Atenciosamente,
Anjo Gabriel
Dpto. Qualidade do Produto
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De: O Senhor
Para: Anjo Gabriel
Data: 999.999 anos a.C.
Ref.: Sua queixa

Prezado Gabriel,
Referente à sua queixa, peço desculpas pela demora, mas estive ocupado criando outros produtos, que serão fundamentais para a vida na Terra. Conversando com o projetista, ele me explicou que o material da "Fenda Final" é altamente elástico e pode perfeitamente se adaptar ao diâmetro do produto "Bebê", que aliás já está na versão 5.0, por favor atualize seu cadastro. Ele me garantiu que não há necessidade de modificações.
Cordialmente,
O Senhor
Diretoria
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De: Anjo Gabriel
Para: O Senhor
Data: 999.999 anos a.C.
Ref.: Novo Defeito

Prezado Senhor,
Essa semana tivemos um problema no setor de Testes, quando um funcionário mais, digamos, criativo, experimentou novas técnicas com o produto "Mulher", colocando-a deitada de lado, com alguns químicos na circulação, como ocito-qualquer-coisa, depois colocando-a deitada de costas, com os apêndices terminais (eles chamam de pernas, não sei de onde tiraram esse nome). Teve um funcionário mais fortinho, o Kristeller, que aplicou uma força sobre o abdômen, e o produto "Bebê, já na versão 5.0" foi ejetado com uma força impressionante. O problema é que a "Fenda Final" se rasgou de maneira impressionante, chegando a danificar o "Orifício Proibido". Sugiro reavaliar rapidamente a possibilidade de uma abertura extra, talvez com velcro ou ziper, na lateral direita da Fenda Final.
Atenciosamente,
A.G.
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De: O Senhor
Para: Anjo Gabriel
Data: 999.999 anos a.C.
Ref.: Reavaliação?

Prezado Gabriel,
Não vou reavaliar coisa alguma! O departamento de testes jamais poderia ter inventado esse tipo de manobra para tentar provar que nossos projetistas são incompetentes. O produto foi criado para produzir "Bebê 5.0" sem ajuda, sem força, sem químicos, sem funcionários gordinhos pulando sobre suas partes! Favor demitir o chefe do departamento, junto com o funcionário Kristeller.
E de agora em diante, não me inventem mais esses "Testes Criativos"! Isso se chamará, de agora em diante, "Manejo Ativo do Parto" e será punido com demissão sumária.
O Senhor
Diretoria
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De: Anjo Gabriel
Para: O Senhor
Data: 999.999 anos a.C.
Ref.: Novos Funcionários

Prezado Senhor,
Tomadas as providências solicitadas, abrimos a vaga de chefe no departemento de Testes e estamos aqui em fase de treinamento. O departamento de RH colocou um novo chefe se chama "Obs Tetra de Bisturi", tem 45 anos e é muito sedutor, especialmente com as funcionárias! Ele disse que tem ótimas idéias para implementar o produto "Mulheres 5.0". Hoje mesmo ele disse que vai bolar um novo acessório para o produto, que se chamará "Episio-qualquer-coisa", desculpe, o nome é difícil. Ele disse que o acessório tornará o produto "Mulher 5.0" mais desejável, mais bonito, mas moderno, e utilizável por muito mais tempo. Vou ser honesto, Senhor, eu não estou gostando desse sujeito.
Atenciosamente,
A.G.


Por: Ana Cris Duarte

Humanização do Parto - Qual o verdadeiro significado?

Existe um movimento no mundo inteiro no sentido de reforçar estas teses. Aqui no Brasil temos a Rede pela Humanização do Parto e Nascimento que é nossa principal ferramenta de aglutinação de profissionais de várias áreas interessados na modificação do atendimento à mulher no ciclo gravido-puerperal. Entretanto percebo que ainda não possuímos uma definição concreta e precisa do que entendemos por humanização, a ponto de um médico que me parece claramente um "intervencionista" tradicional autoproclamar-se "humanista". Porque?
Na minha ótica, (e desde já pretendo colocar que se trata apenas de um viés absolutamente pessoal e que apenas pretende iniciar um debate sobre a questão) quando abordamos este assunto temos que compreendê-lo na sua origem, nas raízes, fugindo tanto quanto possível da pueril superficialidade que aparece aos nossos olhos. O equívoco que a mim parece evidente nas palavras do meu professor é que ele não tem conhecimento do que seja o projeto de humanização no seu sentido amplo e profundo. 
Quando ele fala em humanizar está se referindo a tratar com mais gentileza e "humanidade" as pacientes nos Centros Obstétricos; refere-se a uma abordagem menos agressiva e mais racional do manejo das internações. Porém eu considero humanização do nascimento algo muito mais profundo do que isso. Vai além de fazer um centro obstétrico mais arejado, enfermeiras e atendentes sorridentes ou colocar vasos de flores nos quartos. 
Humanização do Nascimento tem a ver com a posição em que a cliente/parturiente ocupa neste cenário. Neste sentido humanizar tem a ver com feminilizar. Enquanto o nascimento for manejado de forma masculina ele nunca será verdadeiramente humanizado. É inadmissível que um fenômeno tão intrinsecamente feminino seja gerenciado por pressupostos tão marcadamente masculinos! Se a paciente se mantém como objeto, como indivíduo passivo, como alguém sobre a qual recaem as forças cegas e desorganizadas da natureza, necessitando por isso um cuidado intensivo no sentido de salvá-la do seu destino cruel, então nem 1 milhão de flores, rosas, jasmins, cravos, orquídeas e nem milhares de sorrisos benevolentes tornarão este parto um parto humanizado. 
O que torna um parto humanizado, ao contrário do manejo alienante que encontramos nas nossas maternidades, é o protagonismo conquistado por esta mulher. A posição de cócoras, a presença do marido/acompanhante, a diminuição de algumas intervenções sabidamente desnecessárias, o local do nascimento, etc. não são suficientes para tornar um nascimento "feminino e humanizado". É necessário muito mais do que isso. 
Não existe humanização do nascimento com mulheres sem voz. É preciso que esta mulher, consciente da sua posição como figura central no processo, faça valer seus direitos, sua autonomia e seu valor. O que torna um obstetra (ou profissional do parto) humanista ou não, é a capacidade de estimular a participação, o envolvimento efetivo e a condução deste processo a quem de direito: a mãe. Sem estes requisitos de nada adiantam maternidades lindas, belas, arejadas, limpas, assépticas, com enfermeiras gentis e sorridentes. 
Usando como exemplo a questão prisional, uma penitenciária não se torna humana simplesmente varrendo as celas e oferecendo roupas limpas aos detentos. Nem tampouco com carcereiros gentis e sorridentes. Ela se torna humana se a lei é bem aplicada, se não ocorre injustiça na aplicação das penas, se os presos tem os seus direitos respeitados. 
Desta forma, muito mais importante que a humanização da forma, é necessário instituir a humanização dos conceitos. É fundamental construir uma visão nova, que resgate este protagonismo perdido pela tecnocracia dogmática e fechada do cientificismo religioso. Sem este delineamento do que concebemos por humanização ficaremos todos tratando por um mesmo termo conceitos completamente diversos. 
Enfim, o projeto de humanização do Parto e Nascimento inicia-se por uma definição clara do que entendemos por "humanizar", para que a partir de conceitos firmes e sólidos possamos construir um modelo mais justo e adequado para as mulheres, sua família e seus filhos.

Dr. Ricardo Herbert Jones
Médico Homeopata, Ginecologista e Obstetra, Porto Alegre, RS
Fonte: www.amigasdoparto.com.br