quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Versão cefálica externa, ele pode virar, SIM!

Bebê pélvico:

a tão esperada cambalhota

No final da gravidez o ultrassom mostra o bebê sentado dentro do útero. Surge a expectativa de que ele logo vire de cabeça para baixo. O tempo passa… E nada! Hora de perder a esperança de um parto normal? A resposta é não. Uma manobra simples pode ajudá-lo a mudar de posição.

Por Luciana Benatti

A notícia veio como uma ducha de água fria. Com 36 semanas de gravidez, acreditando que a bolsa tinha rompido, Letícia procurou o hospital, onde fez um ultrassom. A suspeita não se confirmou, mas ela descobriu que sua filha Helena estava na posição pélvica, ou seja, sentada. Surpreendida pela novidade, Letícia manteve o otimismo e nem pensou em abandonar os planos de um parto natural: “Eu não queria uma cesárea”.
Quando se trata do primeiro filho, caso de Letícia, o fato de o bebê estar pélvico é indicação de cesariana. Sabendo disso, ela tentou de tudo para ajudar sua filha a virar: exercícios, moxabustão (técnica da medicina tradicional chinesa) e acupuntura. Sem resultado. “Minha sensação era de que ela estava tentando virar e não conseguia”, recorda. Por fim, seguindo a sugestão de sua doula, resolveu tentar a , manobra obstétrica sobre a qual já havia lido na internet e ouvido falar em grupos de discussão de grávidas na internet.
Nesse procedimento, realizado com anestesia no hospital – ou, numa versão mais “light”, no próprio consultório – o médico usa as mãos para empurrar suavemente o bebê por fora da barriga da mãe. O maior risco é um descolamento de placenta, o que exigiria uma cesárea imediata. A manobra também pode estimular o trabalho de parto, por isso só é feita depois de 37 semanas, quando o bebê já está a termo, ou seja, não correria o risco de nascer prematuro.
Depois de pesar os prós e contras, Letícia achou que valia a pena tentar. Acompanhada da irmã mais nova, estudante de medicina, chegou um pouco apreensiva ao consultório da obstetra Andrea Campos. “Fui sem nutrir muita esperança e com medo de que fosse uma coisa violenta com o nenê”, confessa. Um ultrassom feito duas horas antes confirmara a posição do bebê e que as condições para a realização da manobra eram favoráveis: havia boa quantidade de líquido amniótico e nenhuma circular de cordão – o popular cordão enrolado no pescoço – que aumenta os riscos da manobra.
Para ajudar, além de ficar bem relaxada durante o procedimento, a mãe pode beber muita água nos dias anteriores. Isso aumenta a quantidade de líquido amniótico e consequentemente a mobilidade do bebê dentro da barriga da mãe.
A irmã de Letícia ajudou a segurar o bumbum da sobrinha enquanto a médica gentilmente empurrava sua cabecinha. Presenciou um momento raro. “Senti um desconforto na pele, com aquele puxa para lá e para cá, e percebi quando as perninhas passaram. Assim que virou, a sensação foi de alívio. Achei que seria mais difícil”, relata Letícia. A doula, que também estava presente, ajudou com acupuntura. O temor de que o procedimento fosse invasivo não se confirmou: “É muito sossegado e carinhoso com o bebê.”
Embora seja recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que a considera uma manobra segura, eficiente, de baixo custo e que ajuda a reduzir os riscos do parto normal pélvico e da cesárea, a versão cefálica externa é um procedimento em extinção no Brasil: não é ensinado aos futuros médicos durante na faculdade e nem na residência em obstetrícia. O motivo é um só: falta de interesse. Num país onde tudo é motivo para a cesárea – incluindo razões sem qualquer respaldo na medicina, como a violência e o trânsito nas grandes cidades – o bebê estar em posição pélvica acaba sendo uma boa justificativa para marcar a cirurgia.
A obstetra Andrea Campos aprendeu a virar bebês com o colega Jorge Kuhn, que por sua vez se familiarizou com a técnica durante uma temporada de estudo e trabalho num hospital da Alemanha, país em que esta e outras técnicas para evitar a cesárea são muito difundidas.
Desde 2005, quando realizou pela primeira vez, junto com Kuhn, uma bem sucedida versão cefálica externa no hospital, Andrea já realizou a manobra em 21 gestantes, sendo 13 delas no consultório, uma versão mais suave, digamos assim, da manobra. “É preciso sentir a posição do bebê. Se ele quiser virar, se estiver fácil, dou apenas uma guiada. Caso contrário, deve ser feita no hospital”, explica Andrea. Durante o procedimento, o coração do bebê é monitorado de tempos em tempos. “Às vezes cai um pouquinho a frequência cardíaca, mas logo se recupera. Se isso não acontecer, é preciso fazer a cesárea. Por isso, no consultório, se a frequência cair, nem tento a versão.” Os resultados em consultório têm sido animadores. De março de 2010 até hoje (11 de julho de 2011), dos 13 casos em que Andrea tentou a versão cefálica externa, em 11 obteve sucesso. Dos 11 bebês que viraram com a ajuda da obstetra, nove nasceram de parto normal e dois ainda não haviam nascido até o fechamento desta reportagem. Nos dois casos em que não houve sucesso, um bebê nasceu de cesárea e o outro continuava pélvico (e seus pais, esperançosos) enquanto estas linhas eram escritas.
“Existe uma ideia de que, se o bebê está pélvico, a única opção é a cesárea. As mulheres precisam saber que a versão cefálica existe e é possível’, diz Letícia, que graças a essa alternativa tão pouco conhecida e praticada no Brasil conseguiu realizar seu desejo de um parto normal: Helena nasceu num lindo parto na água.

Fonte:http://casamoara.com.br/a-tao-esperada-cambalhota/#more-1240

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